Prof. Dr. Marcos Fava Neves compartilha as tendências do agronegócio com participantes do 27º Encafé
Acostumado com o ambiente de uma sala de aula, o Prof. Dr. Marcos Fava Neves transformou o auditório da 27ª edição do Encafé, que aconteceu entre 06 e 10 de novembro na Ilha de Comandatuba, em Una, na Bahia, em uma “grande aula do agronegócio”.
Sua palestra teve como tema a apresentação do setor brasileiro mais admirado no mundo, assim como as tendências e as oportunidades. “Me formei engenheiro agrônomo em 1991 e acompanhei muitas mudanças: vi a agricultura brasileira jogar na primeira divisão mundial e tenho hoje a oportunidade de falar no mundo todo e perceber que somos a estrela do setor. Estudo bastante para poder divulgar e celebrar este mercado por aí e convido todos a fazerem o mesmo: saibam sobre o agronegócio, divulguem as maravilhas e a relevância deste mercado para que possamos defendê-lo, porque se a gente não falar bem, os outros poderão falar o que quiserem”, comentou, referindo-se às fake news do segmento.
Mesmo com tantas notícias ruins sobre a economia do País, Marcos é positivo. “Estou animado com o próximo ano. Na minha leitura, somos um transatlântico que estava girando no próprio eixo e que agora vai começar a navegar com rumo certo. Temos que ser positivos e enxergar tudo de bom que está acontecendo: juros e inflação baixos, reformas importantes sendo feitas”, opinou.
Uma aula, uma lição de casa
Professor universitário de administração na USP e na FGV, Marcos está acostumado a trabalhar lado a lado com jovens, pensando em ideias junto a eles. “Se tem algo que aprendi com eles é o quão inovadores são. Por isso, deem ouvidos aos jovens que trabalham com vocês, peçam opinião e apostem nas ideias que eles têm, para que projetos inovadores possam surgir”, comentou.
Marcos apresentou ideias aplicadas mundo afora: desde a inovação nas cafeterias às técnicas aplicadas na lavoura. Cada vez mais a sociedade se torna digital, e por isso é preciso a criação de plataformas que aproximem o consumidor da história por trás do produto que consome. “Precisamos fazer o que as pessoas querem e não o que sabemos fazer e o que achamos que elas querem. A nossa função é construir margens/valores para quem consome nossos produtos. Temos como missão gerar oportunidades às pessoas”, provocou.
Foi então que ele apresentou três conceitos a serem refletidos por todos: o de fato (pensando sobre tudo o que está acontecendo no mundo), impactos (questionando como estes fatos interferem ou irão interferem nos negócios/empresas) e os atos (o que pode ser feito em decorrência disto, quais ações terão ou poderão ser tomadas). “O que eu percebo é que as empresas que mais prosperam são as que entenderam rapidamente estes três itens e praticam estas reflexões e perguntas tendo sempre uma ação pronta mesmo antes de algo acontecer”, explicou.
E como toda boa aula, os “alunos” do Encafé saíram do auditório-sala com lição de casa a fazer. “A tarefa que proponho para vocês é estudar esta apresentação. Pensem principalmente na tabela que apresentei, compartilhando este material com suas equipes. Peguem um momento para debaterem a respeito dos temas e pensem em propostas de ações que possam ser aplicadas nas empresas de vocês. Topam o desafio?”.
O que vem por aí?
Por estudar o mercado agro a fundo e por participar de eventos do segmento no mundo todo, Dr. Agro possui conhecimento de causa para falar sobre tendências na área. “Gosto de dividi-las em cinco palavras: demanda, digitalização, engajamento, carbono e margem”, enumerou, explicando pouco a pouco sobre cada uma delas.
Em demanda, ele explica que a expectativa é de grande crescimento da população mundial, que deverá concentrar cerca de 80% na Ásia e na África. “Temos de olhar para estes mercados e estar presentes lá, fazendo com que este público passe a consumir nosso produto, o café”.
Sobre a digitalização, a reflexão é no sentido do produto vendido. “Veja, o Waze, por exemplo, mudou o mercado fazendo com aqueles que antes tinham como ativo o conhecimento das ruas de uma cidade (os taxistas, por exemplo) não tivessem mais nada, pois hoje todos têm acesso a este mesmo conhecimento na palma da mão. A Luckin Coffee e o Alibaba são exemplos para o café, onde a primeira delas abre uma nova loja a cada quatro horas na China, possibilitando que o cliente peça seu café pelo celular e retire a caminho do trabalho. E a segunda funcione como uma grande plataforma de venda de sacas de café para o mundo todo, com soluções prontas de logística”, elucidou.
Em engajamento, Marcos comentou sobre o uso da internet para reunir as pessoas em torno de mesmas afinidades e necessidades – e a riqueza do conteúdo disponível ali. “Uma máquina de café que faz a bebida exatamente do jeito que o cliente quer, via celular, e que possibilita o acesso às preferências deste consumidor. As notas dadas aos produtos vendidos online. As marcas de cafeteria que engajam seu público possibilitando a compra do seu produto para ser consumido em casa – algo que hoje, nas gôndolas americanas, se mostra muito forte, já que vemos nas prateleiras cafés do McCafé, da Dunkin’ Donuts mais presentes do que as tradicionais do segmento”, exemplificou.
Na quarta tendência, carbono, Dr. Agro explicou sobre os conceitos de sustentabilidade, informando que o Brasil é referência no assunto. “Somos o País com a matriz energética mais limpa do mundo e temos que, além de divulgar informações como essas, ganhar dinheiro com isso. Está na hora de recebermos pelos projetos florestais que fazemos pelo planeta”.
Finalizando a apresentação, Marcos comentou sobre margem, convidando todos a refletirem sobre como otimizar a produção. “Vocês têm máquinas que ajudam a economizar por meio da precisão. É preciso estudar e pensar nas soluções que já existem, pensando em agricultura circular, engenharia genética e tantas outras ferramentas disponíveis para o nosso mercado”, comentou. Após tanto conteúdo abordado, todos os participantes saíram com uma longa lista de assuntos para refletir e planos a traçar. “Vocês são produtores de café e têm que entregar café em outros formatos para o seu consumidor, pensar fora da caixa. Tive um aluno que fez no seu projeto de conclusão de curso uma barrinha de cereal à base de cafeína, que apresentava em sua embalagem a informação de que o produto continha duas doses de espresso. O jovem hoje quer isso, ele quer inovação, quer ter acesso à história do produto para se engajar, conhecer sobre o pequeno produtor. Então acho que temos que abrir a cabeça e pensar fora da caixa, pois mesmo tendo feito coisas lindas nos últimos dez anos, ainda há muito a fazer”, finalizou. Vamos estudar?