Agência Safras
Una, 08 de novembro de 2019 – O mercado internacional de café deve ter um déficit na oferta de 4,2 milhões de sacas de 60 quilos na temporada 2019/20, após ter apresentado um superávit na oferta de 6,5 milhões de sacas em 2018/19. A estimativa foi apresentada pelo analista sênior do Rabobank Brasil, Guilherme Morya, que palestrou e falou à Agência SAFRAS durante o 27º Encontro Nacional da Indústria do Café (Encafé), que ocorre de 06 a 10 de novembro no Hotel Transamérica Ilha de Comandatuba, no município de Una, na Bahia.
A produção mundial 2019/20 de café está indicada em 164,4 milhões de sacas, caindo contra a safra global de 171 milhões de sacas de 2018/19. Já o consumo mundial 2019/20 está colocado em 168,6 milhões de sacas, com incremento de 2% contra 2018/19 (164,5 milhões de sacas).
Produção
O Rabobank trabalha com uma safra brasileira 2019/20 de 57,6 milhões de sacas, 7,8% menor que a safra recorde de 2018/19 (57,6 milhões de sacas). Outras origens de arábica estão já com safras decrescentes e devem continuar caindo em função de menores investimentos nas lavouras com os baixos preços internacionais da commodity, apontou Morya.
Citou que em Honduras, a safra 2019/20 deve cair para 6,8 milhões de sacas, 5,6% menos que em 2018/19 (7,2 milhões de sacas). Na Colômbia, a safra deve recuar em 1% em 2019/20, baixando de 13,8 milhões de sacas em 2018/19 para 13,7 milhões. O grupo formado por Peru, México, Guatemala e Nicarágua deve colher 14,3 milhões de sacas em 2019/20, com diminuição na produção de 5,6% contra 2018/19 (15,1 milhões de sacas). “Os piores preços da década estão afetando os produtores de arábica. E isso vai influenciar ainda mais a safra de 2020/21”, comentou Morya.
Os países produtores de robusta não sofrerão tanto, especialmente com menores custos e tendo aumento de produtividade. Assim, o Rabobank estima uma safra do Vietnã (maior produtor de robusta do mundo) de 30 milhões de sacas em 2019/20, contra 30,6 milhões de sacas em 2018/19 (queda de 2,0%). Já a Indonésia tem uma safra 2019/20 indicada em 11,9 milhões de sacas, crescimento de 10% contra 2018/19 (10,8 milhões de sacas). A Índia deve colher um total de 5,9 milhões de sacas em 2019/20, 10,3% a mais no comparativo com 2018/19 (5,4 milhões de sacas).
Consumo
A taxa de crescimento do consumo mundial tem caído nos últimos anos. Morya apresentou dados mostrando que de 2007 a 2012 o consumo aumentou a uma taxa anual de 2,7%. De 2013 a 2018 o índice baixou para 2,0%. Mas, de 2018 a 2019 o consumo subiu de 164,5 para 168,6 milhões de sacas, aumento de 2,5%. O Rabobank projeta que o consumo mundial deve chegar em 190,4 milhões de sacas em 2024.
Morya indicou que os mercados não tradicionais vêm liderando o aumento do consumo, com destaque para o Oriente Médio, onde a demanda cresceu a uma taxa de 11,3% ao ano de 2014 a 2019. Na Ásia, o crescimento foi de 5,5% ao ano no período. No mercado asiático, foram adicionadas 7,7 milhões de sacas no consumo mundial entre 2014 e 2019, apontou o analista do Rabobank.
Na Ásia, Morya destacou que a China segue caminhando para se tornar um grande país consumidor. O consumo chinês está próximo de 4 milhões de sacas ao ano (2018), contra 2,7 milhões de sacas da Coreia do Sul e 8 milhões de sacas do Japão. Como comparação, os Estados Unidos tem um consumo em torno de 26 milhões de sacas. Porém, os chineses consomem per capita apenas 13 xícaras ao ano, enquanto a Coreia do Sul 244 xícaras por habitante/ano, o Japão 300 xícaras e os EUA 386 xícaras. Ou seja, com uma pequena mudança na China no consumo per capita, que deve acontecer, haveria uma transformação na demanda mundial de café. “25 a 30 xícaras per capita já faria uma grande mudança”, ponderou.
O aumento do número de cafeterias na China é um dos caminhos para promover esse aumento do consumo no país. Somente a Starbucks tinha em 2018 na China 3.600 cafeterias. Deverão ser 6.000 lojas em 2022. Como comparação, o Brasil tem apenas 120 Starbucks no país.
Fonte: Lessandro Carvalho (lessandro@safras.com.br) / Agência SAFRAS