O cenário agro é desafiador, repleto de incertezas e inseguranças. Ainda assim, a população mundial não para de crescer, e com ela a demanda por alimentos – em quantidade e qualidade. Soma-se a toda essa pressão a urbanização, mudanças climáticas, falta de água, a democracia colocada em risco em muitos países e a crise da segurança alimentar e energética. Esse cenário de insegurança e incertezas também é um cenário de possibilidades. Pelo menos é assim que Roberto Rodrigues enxerga o contexto para o Brasil – e o agronegócio – nos próximos anos.
Isso porque, segundo dados apresentados por ele na palestra de encerramento da 26ª edição do Encafé, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos projeta que o mundo precisará aumentar a produção de alimentos até 2026/2027 para acompanhar e atender o crescimento da demanda populacional que também não para de crescer. Analisando as perspectivas, o Brasil é o país que mais ampliará a produção, com previsão de aumento de 41% de seus produtos agros no período.
Uma plataforma para o Brasil
Como resposta estratégica a essa demanda e expectativa, Roberto apresenta um plano envolvendo e engajando toda a sociedade. A plataforma considera diversas propostas que englobam variados setores, todos atuando em prol de uma mesma meta: colocar o país na posição de “campeão da Segurança Alimentar mundial”. “Em um cenário como o que é projetado, o Brasil será o responsável pela paz mundial, oferecendo alimento para que não haja fome nem guerra por ela motivada”, afirmou durante sua palestra.
Produzido junto a especialistas de várias áreas e apresentado como uma proposta a ser implementada nos próximos anos, esse plano é muito mais do que pensar apenas no agronegócio, ele reflete sobre toda a economia e sociedade brasileira. “Não se trata de uma defesa do agro, tem a ver com o correto uso de tecnologias, da educação daqueles que trabalham no campo, da desburocratização, de startups que pensem nesse segmento e, claro, em aplicar conceitos de sustentabilidade”, disse Rodrigues.
Falar em sustentabilidade também é falar em equilíbrio. Roberto ressaltou a importância de valorizar a ponta mais frágil do agronegócio: o produtor. “A renda do agro está concentrada na agroindústria e na logística/distribuição. É preciso ter equilíbrio e fortalecer o produtor, promover a integração e a valorização, principalmente das cooperativas. Toda a cadeia tem que agregar valor”, chamou a atenção.
Orgulho de ser agro
Por meio do orgulho do agronegócio, todas as pontas dessa cadeia e também da sociedade são integradas. A promoção da campanha do agronegócio na Rede Globo é um dos exemplos, a recente ida de jovens estudados para o campo é outro. Pouco a pouco é preciso valorizar o segmento – e, mais do que isso, atuar em prol dele, compreendendo sua relevância para o Brasil e para o mundo. “Muita gente ainda tem a visão errada do homem do campo da literatura de Monteiro Lobato, do Jeca Tatu, de que ‘plantando tudo dá’. Precisamos de uma nova postura, fora da marginalização”, disse.
Política em prol do agro
Rodrigues defende, ainda, o desenvolvimento e implementação de políticas públicas em prol do setor: acoplamento de crédito, seguro, preços de garantia, instrumentos para comercialização, expansão do cooperativismo e a popularização do acesso ao mercado futuro. Também aponta a necessidade de defender os interesses do país quando se trata de exportação. “Entre 2000 e 2007, a exportação agro aumentou em quase cinco vezes, mas podemos fazer mais. O café, por exemplo, é muito mais que bebida, é prazer, e é isso que temos que vender lá fora, esse conceito de que nosso café é bom”.
“Muita gente ainda tem a visão errada do homem do campo da literatura de Monteiro Lobato, do Jeca Tatu, de que ‘plantando tudo dá'”
Roberto acredita que Teresa Cristina, a futura ministra da Agricultura, poderá fazer um bom trabalho pelo segmento, confiando em sua competência ele tem esperança em tempos melhores. “O agronegócio pode contribuir muito para o progresso do Brasil e dos brasileiros, gerando empregos, renda e excedentes exportáveis. Mas para isso é preciso uma estratégia ampla, que, uma vez montada, permitirá que sejamos os campeões mundiais da segurança alimentar, base indispensável para a conquista definitiva da paz universal. E eu pretendo lutar por isso até o fim da minha vida, deixando esse legado para os meus netos”, concluiu Rodrigues.
“O USDA projeta que o mundo precisará aumentar a produção de alimentos até 2026/2027 – O Brasil é o país que mais ampliará a produção, com previsão de 41% no período”