Nutrientes do café e seus impactos na saúde

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17/09/2024
Publicado em

O café é uma das bebidas mais consumidas globalmente, valorizado não apenas pelo sabor e aroma, mas também pelos benefícios que promove à saúde¹.

Segundo uma pesquisa realizada pela São Paulo Coffee Hub (SP Coffee Hub) em parceria com a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), com 5.460 entrevistados de 14 municípios brasileiros, existe uma tendência crescente de consumo de café sem açúcar, especialmente entre entusiastas e especialistas, com 34% do público geral também preferindo essa forma. A pesquisa também aborda a crescente preferência dos consumidores por produtos com selos sustentáveis, acreditando que são mais saudáveis para o meio ambiente².

Dada a sua popularidade e variedade de nutrientes, é fundamental investigar os compostos bioativos do café para garantir sua segurança e maximizar os ganhos na saúde, com base em estudos e revisões recentes¹.

Cafeína

A cafeína, principal composto bioativo do café, é conhecida por melhorar o desempenho cognitivo, como atenção, concentração e capacidade de resposta. De rápida metabolização, ela é absorvida no intestino delgado, dentre 15 a 45 minutos, e atinge o seu pico após 1 hora de ingestão, com diminuição gradual em até 6 horas. Sua ação ocorre pelo bloqueio da adenosina, neurotransmissor que reduz o ritmo cardíaco, resultando em um aumento temporário na atividade neural e circulação sanguínea3, 4.

A meta-análise realizada por Calvo et al. (2021) buscou artigos entre agosto de 1999 e março de 2020 para investigar a relação entre a ingestão de cafeína e o desempenho cognitivo em esportes, mostrou que a ingestão de uma dose baixa/moderada de cafeína antes e/ou durante o exercício pode melhorar a energia, o humor, a atenção, o tempo de reação, a memória e a fadiga4.

Outro trabalho, conduzido nos Estados Unidos entre 1987 e 2017, investigou os efeitos do consumo de café e cafeína para doenças crônicas, como doenças cardiovasculares (DCV), diabetes tipo 2 (DM2) e certos tipos de câncer5.

A meta-análise revelou que o consumo de café está associado a uma redução na incidência e mortalidade de DCV e DM2, além de demonstrar um efeito protetor significativo contra o câncer hepatocelular e o câncer de endométrio. Ainda, foi observada uma menor incidência de melanoma e câncer de pele não melanoma com o consumo de café5.

Esses achados sugerem que o consumo de café com cafeína pode beneficiar o desempenho cognitivo e contribuir para a prevenção de patologias. No entanto, é importante considerar a variabilidade individual na resposta ao café e outros fatores de estilo de vida que podem afetar esses resultados5.

Efeito antioxidante

O café contém compostos bioativos que desempenham um papel significativo na promoção da saúde, principalmente devido às suas propriedades antioxidantes, capazes de neutralizar moléculas como os radicais livres, que causam estresse oxidativo e danos às células e ao DNA, contribuindo para o desenvolvimento de doenças crônicas3, 6.

Dentre eles, ácidos clorogênicos, trigonelina e melanoides são os mais destacados. Na revisão de literatura sobre os nutrientes do café conduzida por Makiso et al. (2023), observa-se que esses compostos bioativos estão associados com a redução do risco de DCV, DM2, hepatopatias e alguns tipos de câncer, além de contribuírem para preservação saúde mental e neurológica3, 6.

Eles também possuem propriedades anti-inflamatórias que auxiliam no equilíbrio da inflamação, mecanismo de defesa do sistema imunológico essencial para o combate de infecções, mas quando ocorre em excesso torna-se prejudicial à saúde3, 6.

Vitaminas e minerais

De acordo com a obra de Cozzolino et al. (2020), que revisou a literatura científica acerca dos principais macro e micronutrientes indispensáveis para a alimentação humana, o café apresenta, principalmente, as vitaminas tiamina (B1), riboflavina (B2), niacina (B3) e ácido pantotênico (B5), e os minerais magnésio, potássio e manganês3.

As vitaminas do complexo B atuam como coenzimas em reações envolvidas com a produção de energia e regulação do metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, reações de oxidorredução e de suporte ao funcionamento dos sistemas nervoso e digestivo, reparação do material genético, dentre outras funções3.

Em relação aos minerais, o magnésio é vital para mais de 300 reações enzimáticas no corpo, importante para a síntese de proteínas, função muscular e nervosa, controle da glicose no sangue e regulação da pressão arterial. Além disso, ele tem propriedades laxativas que estimulam a motilidade intestinal e auxiliam sintomas de constipação3.

O potássio é essencial para a função normal das células, nervos e músculos, equilíbrio de fluidos no corpo e a função renal, além de auxiliar no controle da pressão arterial e na função muscular. Já o manganês atua na formação de tecido conjuntivo, ossos, coagulação sanguínea e função cerebral, atuando como coenzima em várias reações metabólicas3.

Embora o café não seja a principal fonte de vitaminas e minerais da alimentação, ele contém quantidades consideráveis que contribuem para atingir as necessidades diárias desses nutrientes.

Interação fármaco-nutriente

Assim como ocorre com outros alimentos, o café contém nutrientes que podem interagir com medicamentos e outros nutrientes. De acordo com a revisão de Belayneh & Molla (2020), essas interações podem afetar significativamente a absorção, distribuição, metabolismo e excreção de diversos fármacos, resultando em respostas terapêuticas alteradas7.

Os autores identificaram que a cafeína pode interferir no metabolismo de fármacos ao inibir enzimas hepáticas como o CYP1A2, prolongando a presença de medicamentos no organismo. Isso pode aumentar o risco de efeitos colaterais ou potencializar a ação de certos medicamentos, como o escitalopram, cuja biodisponibilidade pode ser reduzida pela formação de complexos insolúveis com a cafeína7.

Além disso, o café pode impactar a absorção de nutrientes essenciais. Por exemplo, sua ingestão junto às refeições principais pode diminuir a absorção de ferro, especialmente o ferro não-heme, presente em alimentos vegetais. Também foi observado que o café pode reduzir a absorção de cálcio, crucial para a saúde óssea7.

Os ácidos clorogênicos, outro componente do café, foram mencionados no artigo por seu potencial antioxidante, que pode amplificar os efeitos das vitaminas C e E, contribuindo para a redução do estresse oxidativo. Esses compostos também podem contribuir para desacelerar a absorção de glicose, o que pode ser benéfico para o controle glicêmico7.

Dado o potencial do café para interferir na absorção de medicamentos e nutrientes, recomenda-se que indivíduos em tratamento farmacológico ou com necessidades nutricionais específicas consultem um profissional de saúde para orientação adequada. Manter um intervalo de pelo menos uma hora entre a ingestão de café e o consumo de medicamentos ou refeições pode ajudar a minimizar essas interações e otimizar os benefícios para a saúde7.

Conteúdo desenvolvido por:

Amanda Rezende – Nutricionista

CRN3 – 64754

Referências Bibliográficas

  1. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasil é o maior produtor mundial e o segundo maior consumidor de café [Internet]. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 2023 [citado 2024 ago 13]. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/brasil-e-o-maior-produtor-mundial-e-o-segundo-maior-consumidor-de-cafe.
  2. Associação Brasileira da Indústria de Café. Pesquisa perfil do consumidor de café que busca qualidade [Internet]. São Paulo: ABIC; 2021 [citado 2024 ago 13]. Disponível em: https://estatisticas.abic.com.br/wp-content/uploads/2022/04/pesq_cafe_superior_abic_spch.pdf.
  3. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença / organização Cristiane Cominetti, Silvia Maria Franciscato – 2. ed., rev. e atual. – Barueri [SP] : Manole, 2020.
  4. Lorenzo Calvo J, Fei X, Domínguez R, Pareja-Galeano H. Caffeine and cognitive functions in sports: A systematic review and meta-analysis. Nutrients. 2021;13(3):868. doi:10.3390/nu13030868.
  5. Di Maso M, Boffetta P, Negri E, La Vecchia C, Bravi F. Caffeinated coffee consumption and health outcomes in the US population: A dose-response meta-analysis and estimation of disease cases and deaths avoided. Adv Nutr. 2021;12(4):1160-1176. doi:10.1093/advances/nmaa177.
  6. Makiso MU, Tola YB, Ogah O, Endale FL. Bioactive compounds in coffee and their role in lowering the risk of major public health consequences: A review. Food Sci Nutr. 2023;12(2):734-764. doi:10.1002/fsn3.3848.
  7. Belayneh A, Molla F. The effect of coffee on pharmacokinetic properties of drugs: A review. Biomed Res Int. 2020;2020:7909703. doi:10.1155/2020/7909703.