Nos dois primeiros textos produzidos pela Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), cujo objetivo é contar a história do café no Brasil, descobrimos como se deu a sua chegada no país e de que forma ele contribuiu com o desenvolvimento e com a industrialização nacional. Dando continuidade, a terceira e última produção do projeto traz informações sobre o impacto e a versatilidade do grão na atualidade.
Após os avanços tecnológicos e de infraestrutura alcançados durante o Século XIX e nas primeiras décadas do Século XX, o país tornou-se o maior produtor e exportador de café do mundo. Embora a produção nacional fosse referência, antes dessa virada de chave na cafeicultura, o consumo da bebida ainda não era unanimidade entre a população.
O hábito ganhou força graças a um grande excedente de café não exportado armazenado e o consequente aumento na oferta para o mercado interno. Na época, o governo financiou, após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, campanhas que estimularam esse comportamento. Atualmente, o Brasil ocupa a 14ª posição no ranking geral de consumo.
No que se refere à produção, o destaque brasileiro pode ser creditado a um importante fator: o investimento em pesquisas. Eduardo Carvalhaes Júnior, membro do Comitê Executivo e do Comitê Consultivo do Museu do Café, explica que: “Todo esse investimento em pesquisas transformou o Brasil em um ‘supermercado de cafés’, produzindo praticamente todas as variedades comerciais consumidas no mundo. A qualidade do produto brasileiro cresceu exponencialmente nos últimos 30 anos. Portanto, o que nos diferencia no mundo do café é que somos conhecidos pela quantidade, variedade e qualidade crescente de nossas safras”.
O executivo complementou dizendo que instituições como o Instituto Agronômico de Campinas – IAC, fundado por D. Pedro Segundo ainda no Século XIX, o Instituto Biológico de São Paulo, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz – ESALQ, que pertence a USP, e a EMBRAPA contribuíram com esse desenvolvimento e com o estudo científico do grão.
Compromisso com a qualidade
O surgimento da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em 1973, é um marco no que diz respeito ao controle de qualidade do produto brasileiro. Fundada com o objetivo de representar as indústrias de torrefação e moagem de café de todo o país, a Associação foi responsável por estimular a educação para o consumo e criar programas de certificação da bebida.
O Selo de Pureza ABIC, lançado em 1989, estabeleceu uma nova forma de atuação do setor cafeeiro, com informações técnicas e gerenciais voltadas para o melhoramento da qualidade e da produtividade. O seu sucesso chamou a atenção da Organização Internacional do Café (OIC), que vem utilizando o caso brasileiro como modelo para outros países.
Posteriormente, a instituição inaugurou outros métodos de autorregulamentação: o Selo de Qualidade ABIC, de 2004, responsável por certificar a categoria de qualidade e a consistência do café; o Programa Cafés Sustentáveis do Brasil, que valida produtos que utilizam cafés de fazendas certificadas quanto à sustentabilidade e preservação do meio ambiente; o Programa de Certificação de Cápsula, que verifica a intensidade da bebida; e o Programa Círculo do Café de Qualidade, que certifica casas de café, cafeterias e pontos de café.
O ouro negro brasileiro no exterior
Não é somente para a mesa dos brasileiros que o café nacional leva energia. O consumo do produto no mundo representa aproximadamente 37% do total, o que mostra a força e o impacto do agronegócio local, inclusive na categoria de cafés especiais. Essa influência é resultado de muito investimento, cujo esforço conseguiu atrair novos consumidores ao redor do planeta e ajudou a estabelecer a imagem do país como um relevante produtor de qualidade.
Em 2020, o Brasil bateu um record no volume de grãos exportados. Foram mais de 44,5 milhões de sacas, o que representou um aumento de 9,4% em relação ao ano de 2019. A receita cambial das exportações alcançou US$ 5,6 bilhões, aproximadamente R$ 29 bilhões. O café respondeu por 5,6% das exportações totais do agronegócio no ano. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Mudanças de comportamento
Embora o hábito de beber café não seja atual, nunca é tarde para experimentá-lo de uma forma diferente. As novas categorias, conhecidas como Cafés Especiais ou Gourmet, invadiram o mercado e conquistam novos adeptos a cada dia. As cápsulas e o famoso café gelado também são ótimos exemplos para mostrar como uma bebida tão antiga pode se reinventar e conquistar novos públicos.
“Os novos consumidores de café, a maioria jovens, estão sempre querendo experimentar novas maneiras de tomá-lo. Assim, as indústrias estão constantemente atrás de novidades para atrair novos consumidores e fidelizar os demais. A praticidade das cápsulas conquistou adeptos em todo o mundo. É difícil saber exatamente a razão do café ter se tornado uma bebida praticamente universal. Mas, a verdade é que o consumo mundial continua crescendo e conquistando novos adeptos a cada ano. Nos últimos anos, o consumo de café na China, por exemplo, vem crescendo rapidamente”, conta Eduardo Carvalhaes Júnior.
Independente da forma em que ela seja apresentada, a bebida sempre terá fãs em qualquer parte do mundo. Entender a história do grão é conhecer a fundo como se deu o desenvolvimento econômico e social de um país tão único como o Brasil. Café é sabor, versatilidade, energia e, principalmente, conhecimento!
Redação: Usina da Comunicação