Tudo começou em 2004, quando Stefani Abdallah trabalhou em uma torrefadora de cafés gourmet, onde cuidava da parte de comunicação, de eventos e de atendimento ao cliente. Foi lá que ela se apaixonou pelo universo do café, sua cultura e todos os processos que vão desde o cultivo, passando pela torra, industrialização, até chegar às xícaras. Formada em administração hoteleira, ela se aprofundou nos estudos, e se formou em barista e sommelier de cafés gourmet, uma profissão pouco comum na época.
Em sua passagem por diversas cafeterias e restaurantes de São Paulo, Stefani sentia uma grande necessidade em treinar profissionais para que eles conseguissem extrair o melhor café de diferentes equipamentos. A partir daí, começou a oferecer consultoria para ajudar na capacitação dos operadores de máquinas e na elaboração dos cardápios com variados preparos à base de café. Em 2008, a especialista tornou-se referência na criação de drinques com o ingrediente.
Tanto reconhecimento fez com que abrisse a própria empresa, Abarista, com a qual oferecia consultoria, treinamento e assessoria no desenvolvimento de menus de renomadas casas da cidade. Ao longo de sua jornada, Stefani fez cursos de degustação, aprendeu sobre processos e beneficiamento do café, passou por grandes marcas do setor cafeeiro, atuou em eventos pelo país e chegou a servir mais de três mil drinques de café em um grande evento no Rio de Janeiro. Hoje, a especialista tem sua própria cafeteria: a Casa de Cafés. Onde investe em um conceito diferenciado, faz eventos, fornece cafés artesanais e kits corporativos de cafés especiais.
Mercado
Stefani Abdallah comenta que antigamente as pessoas saíam muito de casa para tomar um bom espresso em padarias gourmetizadas, mas hoje o cenário mudou. O número de cafeterias e de baristas cresceu, assim como a qualificação de ambos. Tal quadro possibilitou a procura por métodos diferentes de preparo, em busca de novas experiências com cafés coados, pois o consumidor já tem o café espresso dentro de casa. “Hoje, os clientes saem de suas casas em busca de experiências com uma grande variedade de cafés com perfis distintos, o que é bem bacana. Com isso, a gente consegue apresentar toda a diversidade de cafés que o Brasil tem, falar muito mais sobre perfis sensoriais e como cada método de preparo realça características específicas do grão”, explica.
A barista destaca ainda o crescimento do mercado de cafés especiais: “Agora,esse mercado de cafés está muito legal, com uma demanda bastante alta de degustações em cafeterias, que faz com que a gente consiga expor mais sobre o assunto e falar sobre cafés diferentes. Hoje, em uma cafeteria, você consegue encontrar mais de três tipos de preparos e mais de dez deles se o estabelecimento for especializado, você não vai mais em um lugar que ofereça apenas um tipo de café. Isso tudo de 2006 para 2021, um aumento muito significativo”, comenta Stefani.
Ainda segundo a especialista, o mercado mudou muito por conta dessa facilidade de acesso ao café espresso, pois fez com que as pessoas saíssem para buscar novos sabores e conhecessem mais sobre a cultura do alimento. “Esse quadro favorece também ao turismo, porque chama os clientes para conhecerem as regiões produtoras através das visitações às fazendas, comportamento que não tinha antigamente. E isso é relacionado ao excelente trabalho que os baristas fazem dentro das cafeterias, que instiga no consumidor final a vontade de saber mais sobre o assunto”, complementa.
Tendências
Apesar de preferir cafés frutados e exóticos como o Catuaí amarelo em processo cereja descascado, Stefani destaca o crescimento do nicho de cafés fermentados como grande tendência, pois eles estão trazendo novos perfis sensoriais para o mercado.
E para quem está começando na profissão, a dica é se aprofundar nas áreas culturais e de turismo, a fim de proporcionar entretenimento e sair da mesmice. “Eu vejo os baristas só preocupados com campeonatos, descobrindo cafés sem se atentarem em como a parte cultural pode contribuir para o reconhecimento do país como uma grande potência nesse mercado. O Brasil tem as melhores praias, os melhores vinhos, mas também os melhores cafés”, finaliza.
Já para os apreciadores da bebida, a sócia-diretora da Abarista sugere que uma boa degustação deve começar com um pouco de água com gás, para limpar as papilas gustativas e sentir melhor todos os aromas do café. Pois, a experiência se inicia com a apreciação do cheirinho gostoso da bebida, capaz de aguçar qualquer paladar.