Em mais uma edição da série ABIC Entrevista, o Jornal do Café convidou a Diretora Executiva da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE), Luciana Pellegrino, para falar sobre a reciclagem de embalagens no Brasil. A especialista traçou um importante panorama sobre sustentabilidade na cadeia produtiva do setor e, também, ressaltou a importância das marcas e das empresas orientarem o consumidor na destinação após o consumo
ABIC lança primeira unidade do projeto que reduz custos e incentiva a logística reversa.
Quais são os desafios para tornar as embalagens em geral sustentáveis?
R: O primeiro desafio é o amadurecimento do entendimento desse tema. A embalagem faz parte, mas não se trata exclusivamente dela ou do material. Ela é transversal à jornada do produto, caminhando muito próxima às diferentes etapas do ciclo de vida dele. É fundamental olhar onde estão os impactos nessa jornada para que eles sejam mitigados.
No setor cafeeiro, a embalagem é muito importante para que o produto não perca o seu grau de qualidade e as suas características. É essencial prestar atenção aos meios necessários para reduzir as perdas e os desperdícios. Essa jornada, portanto, vai além do momento do consumo, sendo importante entender e definir a destinação final adequada das embalagens. Para que esse processo aconteça da melhor forma é fundamental orientar o consumidor sobre o que fazer com as embalagens no pós-consumo.
Há novidades e/ou orientações para o setor do café?
Quando analisamos o café destinado para o consumo há algumas embalagens que trazem uma experiência diferenciada e uma forma peculiar de trabalhar a sustentabilidade na cadeia do produto. É muito saudável o setor ter essa alternativa, essas diferentes possibilidades oferecidas para o consumidor, o que se adequa ao estilo de vida de cada pessoa e as suas necessidades.
Hoje, algumas famílias consomem o café de forma pontual, casos em que as cápsulas têm uma performance importante. Isso porque ela se adequa a quantidade exata que a pessoa vai tomar, o que é ótimo para a sustentabilidade, já que evita o desperdício de produto. É uma forma de porcionar o consumo.
Atualmente, por exemplo, há marcas que usavam cápsulas plásticas e que já estão se preocupando em ter cápsulas monomateriais. É importante que elas entendam o que acontecerá com a cápsula após o uso. Por ela ser muito pequena, o mesmo acontece com as tampinhas, pode acabar se perdendo junto ao volume dos resíduos.
Por isso, é necessário criar programas de ciclo fechado, que incentivam os consumidores a devolverem as cápsulas pós-consumo. Isso irá viabilizar, de fato, a reciclagem e a sustentabilidade de toda a cadeia. É necessário que a indústria converse sobre o descarte correto das embalagens com o seu público.
Como está o Brasil frente a outros países?
O Brasil tem uma indústria de reciclagem bastante madura para certas estruturas de embalagens que têm uma maior viabilidade econômica. Hoje, temos materiais como o alumínio, o aço e garrafas PET transparente, por exemplo, cuja capacidade para a reciclagem é muito grande. A infraestrutura nacional está bem desenvolvida e traz ganhos econômicos para os agentes envolvidos nessa cadeia. Além disso, ela é capaz de fornecer matéria-prima para abastecer a indústria.
Porém, para outros materiais, como as embalagens flexíveis, o Brasil precisa avançar. Ainda não temos a tecnologia implementada aqui. Em países como Austrália, EUA e Japão, a reciclagem de materiais flexíveis é mais desenvolvida pela própria infraestrutura energética dessas localidades. Para dar um passo adiante nessa questão, é necessário que haja uma política público-privada que garanta a segurança desse investimento em longo prazo. O processo de gestão de resíduos é econômico e deveria acontecer em simbiose com outros setores produtivos.
É caro ser sustentável?
Não, não é caro ser sustentável. A sustentabilidade traz ganhos econômicos porque ela pressupõe, como pano de fundo, a eficiência. Para ser sustentável, é necessário buscar a melhoria em cada etapa do processo, assim como diminuir a utilização de materiais e energias. Isso não quer dizer que o investimento para aprimorar as etapas produtivas seja dispensável. Ele precisa acontecer para que a sustentabilidade permeie os ciclos de vida deste produto.
O olhar para o pós-consumo requer investimento. É um passo fundamental que irá retornar valor para a empresa, fazendo com que a marca seja reconhecida como mais responsável e esteja entre as preferências do consumidor. O investimento é necessário e representa um ganho perene para o negócio, já que a sociedade tende a ser mais crítica com marcas que não possuem uma visão sustentável.
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