ABIC Entrevista: Henrique Cambraia, Presidente da BSCA

Em conversa exclusiva com o Jornal do Café, novo presidente da BSCA relatou sobre as expectativas para o mercado em 2022, as prioridades da sua gestão, ESG e a conexão entre produtor e consumidor

Henrique Dias Cambraia
07/03/2022
Publicado em

No final de 2021, Henrique Cambraia foi eleito pelo conselho diretor da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) como o novo presidente da associação, assumindo o desafio de posicionar o Brasil como um dos melhores produtores e exportadores de cafés especiais do mundo.

Em entrevista ao Jornal do Café, Cambraia comentou sobre os obstáculos enfrentados pelo setor, os focos da sua gestão e a importância do ESG para a indústria.

Diante das adversidades encaradas pela indústria cafeeira, atualmente, como os problemas causados pela pandemia e a alta do preço do café,  quais as expectativas para o mercado de cafés especiais para esse ano que se inicia?

Essa pergunta pode ser abordada por três pontos. O primeiro é que o grande impacto que o setor de cafés especiais sofreu durante a pandemia foi o fechamento de vários hotéis, restaurantes e cafeterias, principais pontos de venda. É um momento de recuperação, temos visto alguns nomes retornando, outros novos nomes aparecendo, é um cenário desafiador para a reconstrução desse setor.

O segundo ponto é o consumo caseiro, que segurou boa parte da indústria, as partes que estavam preparadas para as vendas on-line, e que conseguiram surfar no momento e até mesmo expandido de forma impressionante, tomando grande parte desse share, especialmente, nesse período pandêmico. O que observamos desse mercado on-line é que ele veio para ficar, pois as empresas que foram para esse meio conseguiram bancar essa mudança. É uma venda onde o consumidor que passou a adquirir café especial, se manteve fiel ao segmento, então, isso é algo para sermos otimistas.

Por fim, a pandemia elevou a consciência do consumidor, que busca não só qualidade, mas também sustentabilidade, com uma preocupação ambiental e social, querendo saber de onde o produto veio e como é feito. A necessidade da rastreabilidade é uma tendência que continuará cada vez mais forte mesmo no pós pandemia.

Além da pandemia, a indústria cafeeira enfrenta situações como problemas climáticos, alta do dólar e questão do frete, como encarar essa fase?

Acredito que será uma fase de transição, de inovação, tanto da indústria, quanto do varejo. Existe uma pressão inflacionária no mundo, no café ela vem da alta dos preços, que no caso dos cafés especiais, ela é infinitamente menor que a alta das commodities, então isso ajuda um pouco a cadeia. Por outro lado, a inflação que vem no aluguel de imóveis, nos fretes, dos materiais, ou seja, em toda a cadeia, está sofrendo o impacto, aí fica a questão, até onde isso não vai impactar o poder de compra dos consumidores desse tipo de café? Em via de regra, é um público pouco sensível a essa alta, então, a tendência desse consumo é não cair tanto. Acredito que esse é um mercado já bem consolidado e que não deve se preocupar com retração, e sim em estar preparado para a retomada e crescimento, especialmente, quando o poder de compra do brasileiro retornar. Vale lembrar que o share de cafés especiais tem crescido mais e mais no consumo de café no Brasil.

Quais serão suas prioridades para a BSCA durante a sua gestão?

A nossa prioridade é a consolidação da BSCA como fomentadora de concursos, realizando disputas de excelência no Brasil, como o Cup of Excellence, Florada e o Fair trade, entre outros que nos dedicamos diretamente.

Queremos consolidar também a imagem dos cafés especiais brasileiros como um produto sustentável, que ao longo da história da organização sempre se pautaram pela qualidade, pela rastreabilidade, pela preocupação social com as comunidades nas quais as fazendas produtoras possuem envolvimento e a preocupação ambiental, todas essas questões são importantíssimas para nós.

Temos planos também de fortalecer o nosso programa educativo, a BSCA School, um programa de educação à distância, onde estão disponíveis temas que envolvem toda a cadeia de cafés especiais. Tornar esse programa mais forte é um dos nossos objetivos. Ainda nesse âmbito educativo, nossa parceria com a Coffee Quality Institute (CQI),  por meio do curso de Q-Grader, tem se destacado no Brasil, com o curso de Q-Grader na BSCA possuindo fila de alunos, então o fomento de profissionais em todas as partes da cadeia é uma de nossas grandes prioridades.

Os princípios da ESG têm se tornado algo muito importante para diversas indústrias, há planos de levar esse assunto mais à frente durante seu mandato?

Nós sempre nos pautamos por esses ideais, pela governança, pelo foco no social, seja ele no cuidado com os trabalhadores, seja ele nos pequenos e médio produtores, preocupados com as comunidades ao seu entorno, e sempre a preocupação e a ação na preservação do meio ambiente. A BSCA se sente muito confortável com isso, pois o ESG já faz parte do nosso cotidiano há anos, são mais de 20 anos que nós atuamos com o nosso próprio programa de certificação, atestando a participação de seus membros em certificações renomadas, que envolvem requisitos de rastreabilidade, qualidade e preocupações socioambientais, logo o ESG sempre foi vital no mercado de cafés especiais. Hoje, mais do que nunca, não existe produção de café especiais sem o engajamento completo com as questões da sigla.

Como aproximar o consumidor do café do produtor? Acha importante dar uma face humana para os produtos?

Mais e mais queremos humanizar os cafés especiais, primeiro pelo incremento brutal das vendas de microlotes, que em sua imensa maioria passa pelo produtor. O lote dele, como foi produzido, as características fundamentais e técnicas do mesmo, e acima de tudo, hoje, faz parte do negócio a demonstração da história do produtor. Qual a história por trás desse café? Esse lado é crescente e não tem volta. Sempre terá na cadeia, nas torrefações e até mesmo em partes do varejo, que estarão levando ao consumidor a história e o café daquele produtor. Isso dará ainda mais motivação para o produtor, já que todo seu esforço na produção deste lote especial está chegando de maneira integral na casa do consumidor.

Algumas indústrias, além desse aspecto, estão se utilizando de mecanismos de blockchain para dar total rastreabilidade aos lotes de café de produtores específicos, de blends maiores que compõem lotes de cafés especiais. Esse avanço da blockchain permite que o consumidor possa ter acesso a uma história íntegra e completa do produtor. Essa humanização é importante nas duas vias, o consumidor quer saber de onde vem o seu produto, e o produtor fica orgulhoso em saber que o seu café está chegando de maneira rastreada e transparente nas casas dos brasileiros.

O que espera para o futuro dos cafés especiais?

Acredito que a BSCA e a ABIC tem um papel fundamental em, juntas, consolidarem o mercado de cafés especiais, junto às associações de supermercados, aumentando o espaço dos cafés especiais nas gôndolas, e chegarmos ao setor de horeca (hotelaria, restaurantes e catering), que além da necessidade de cafés especiais na essência da bebida, também precisa de um apoio de serviços especiais, junto com as empresas de máquinas, e com a formação de toda uma mão de obra que consolida esse consumo de café também fora de casa.

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Redação: Usina da Comunicação

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