A sustentabilidade segue como um dos temas mais relevantes e debatidos no mundo dos negócios. No setor do café, não é diferente. Por esse motivo, o Jornal do Café convidou a Flávia Cunha, especialista em Sustentabilidade e CEO da Casa Causa, para falar sobre reciclagem, pós-consumo, impacto ambiental, Lixo Zero e demais conceitos importantes para que os Associados possam se atualizar sobre o assunto.
O que é o Lixo Zero?
É uma meta para guiar pessoas e instituições a mudarem as práticas de incentivo aos ciclos naturais sustentáveis, onde todos os materiais são projetados para permitir sua recuperação e uso pós-consumo. A partir de premissas éticas, econômicas e eficientes, a metodologia promove maneiras específicas de cuidar dos resíduos que jogamos fora. O Lixo Zero também propõe medidas de ação pública e privada que minimizem os impactos do aquecimento global.
Como ele surgiu?
Foi a partir de um incômodo do especialista em gestão de recursos, Richard Anthony, que o movimento começou a surgir, em 2002. Anthony e um grupo de outros especialistas na área, fundou o Zero Waste International Alliance (ZWIA), uma instituição voltada para estudar as melhores maneiras de se destinar produtos sem gerar desperdício.
Desde então, o ZWIA iniciou afiliações em diversos países, inclusive no Brasil, representada pelo Instituto Lixo Zero (ILZ). Em território nacional, o conceito é difundido desde 2010 pelo instituto e, aborda a redução de custos para os municípios, a geração de emprego e renda por meio da gestão adequada de resíduos.
O objetivo também foi o de disseminar o conceito do Lixo Zero/Desperdício Zero e unir os integrantes da sociedade como: gestores públicos, gestores de instituições, empresários, educadores e cidadãos, para que juntos, possam acelerar a nossa organização social e a nossa estrutura econômica com o objetivo de atingir essa meta.
Como o conceito se aplica às empresas?
O Lixo Zero guia o empreendedor e as empresas em direção a um conceito mais sustentável dentro da instituição, mudando hábitos, reduzindo custos, transformando a realidade interna e a imagem externa perante a sociedade. Para micro e pequenas empresas, o Lixo Zero é uma oportunidade de negócio, pois se beneficia da redução de gastos, na competitividade e na redução de riscos do negócio. Muitos empreendedores sabem que a sustentabilidade é um bom negócio, porém não sabem por onde começar.
Capacitação na distribuição de seus produtos, apoio às práticas de melhoria de eficiência, redução de desperdício, melhores práticas de compra, análise holística de custo dos insumos, e reuso ou adaptação para reaproveitamento são alguns dos problemas que o Lixo Zero ajuda a resolver.
Qual a importância dessa iniciativa?
Ativismo. Não precisamos mudar o mundo, precisamos mudar a forma com que cada um de nós reage às causas ambientais. Precisamos aprender a cuidar e curar. A Terra está doente e os sintomas estão cada vez mais evidentes. Um dos problemas mais graves é o lixo gerado pela humanidade. Cada vez que nos debruçamos sobre esse sintoma para entender e trabalhar nas suas causas, enxergamos a gigantesca e até dolorosa complexidade da gestão de resíduos sólidos, principalmente, nas grandes cidades do país.
É um problema que começa nas nossas casas, se estende para os nossos bairros, e que afeta o nosso país e todo o planeta. É uma responsabilidade do cidadão, das empresas e do poder público. Nós somos a natureza, mas nos esquecemos disso. A simbiose é regra no mundo natural e o Lixo Zero tem como meta buscar sinergias e trocas que permitam tratar as causas por trás desse grande sintoma, o lixo. É necessário criar uma rede colaborativa em busca de ação e impacto.
Quais outras iniciativas podem ser somadas ao Lixo Zero para evitar desperdícios e o descarte irregular das embalagens?
Elaboração, implantação e execução de programas e projetos sustentáveis, no âmbito do conceito Lixo Zero. Além disso, é possível gerar conteúdo escrito e vídeos apresentando boas práticas, casos reais e formas de mobilização; promover palestras com convidados especialistas; questionar as empresas ou setor público sobre temas de interesse do município e seus cidadãos; disponibilizar consultoria para inserir na estratégia da empresa a sustentabilidade; participar ativamente da política, escolhendo representantes que atuem nas instâncias municipais e federais; processos de Economia Circular, Educação Ambiental, ações de comunicação em veículos renomados e mídias digitais; e apoiar movimentos para evitar o desperdício de alimentos, Universidades, estudos e startups.
[Leia a série que o Jornal do Café produziu sobre a História do café]
Como você avalia a atuação das empresas brasileiras no quesito sustentabilidade?
A importância da sustentabilidade na gestão das empresas, com maior atenção para o problema do aquecimento global, é uma questão urgente, que vai nortear a próxima década. É uma questão prioritária para os CEOS. São os conselhos de líderes que têm capitaneado a aceleração das medidas para conter a mudança climática no Brasil, com a implementação do mercado de carbono. Não à toa, a maior empresa em gestão de ativos no mundo, a Black Rock, vem se posicionando fortemente sobre a questão e exigindo que os conselhos que a integram tomem medidas concretas.
Em uma segunda carta endereçada a seus clientes (a primeira foi em janeiro de 2020), o CEO da Black Rock, Larry Fink, foi enfático ao afirmar que a mudança climática se tornou um fator determinante nas perspectivas de longo prazo das empresas. Apenas as companhias que têm o tema em sua pauta prioritária conseguirão ter crescimento econômico e prosperidade. O que o Brasil vem fazendo é um exemplo importante de como o setor privado está subsidiando o governo baseado no cenário do próprio PNE (Plano Nacional de Energia).
Acho que mais do que buscar respostas, as empresas precisam fazer as perguntas certas, principalmente, tendo em vista o cenário desafiador. A pandemia antecipou situações que já estavam colocadas nos cenários como as consequências da mudança climática, redução da biodiversidade e provocou uma reviravolta na nossa forma de ver o planeta, evidenciando as relações de interdependência. O futuro aponta que os elementos geradores de vida ocupam lugar central na economia (água, terra, ar, alimentos, etc). Se as empresas não cuidarem do planeta, elas não existirão .
O Lixo Zero pode ser aplicado nas indústrias do agronegócio? Se sim, como
A certificação demonstra aos clientes, concorrentes, fornecedores, colaboradores e investidores que a empresa usa as melhores práticas reconhecidas pelo segmento. Além dos benefícios inerentes ao meio ambiente e à sociedade, a implementação de um Plano de Ação Lixo Zero adequado traz também benefícios econômicos significativos para o negócio.
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Reportagem: Usina da Comunicação
Colaboração: Paula Tavares
