Iniciativas sustentáveis dentro das indústrias é um dos assuntos que mais reverberam dentro do setor. Seja através da implementação da economia circular ou de práticas que visam diminuir o impacto ambiental, a sustentabilidade se faz presente e mostra, cada vez mais, o quanto está conectada com o desenvolvimento e a lucratividade.
Para explicitar melhor o tema, o Jornal do Café conversou com Davi Bomtempo, Gerente Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria – CNI. O executivo falou sobre as emissões de carbono no Brasil e deu dicas de como a indústria nacional pode reforçar ações de sustentabilidade.
O que a indústria de café precisa saber para se posicionar quanto à precificação de carbono no Brasil?
São duas as estratégias centrais para promover ações de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. A primeira é por meio de políticas de “comando e controle”, em que o Estado estabelece a regulação direta. Já a segunda, é via instrumentos econômicos, por meio da adoção de incentivos e subsídios e por meio da precificação de carbono. Esta consiste na atribuição de um preço sobre as emissões de gases de efeito estufa.
A precificação pode ser feita de duas formas. A primeira é pela taxação de carbono, e a segunda, é por meio de mercados de carbono, que podem ser voluntários ou regulados.
No caso dos mercados regulados, o tipo mais comum mundialmente é o Sistema de Comércio de Emissões, sob a ótica do Cap and Trade. Neste mercado, há interação entre os setores regulados que podem comprar e vender permissões de emissões de GEE (de acordo com alocações definidas pelo governo). Este é o caminho defendido pela Confederação Nacional da Indústria.
Qual a agenda de descarbonização da CNI?
A estratégia para consolidar uma economia de baixo carbono da CNI é baseada em quatro pilares: transição energética, mercados de carbono, economia circular e conservação florestal.
São ações a serem desenvolvidas conjuntamente entre governo e indústria, visando acelerar a implementação de tecnologias e programas necessários ao avanço na direção da redução das emissões de GEE, nos curto e médio prazos, e da neutralidade climática, em 2050.
Como a ABIC pode estimular as empresas associadas a aderirem a esta agenda?
Os impactos das mudanças climáticas para a indústria estão relacionados às necessidades de grandes investimentos, ao desenvolvimento de tecnologia e a eventos climáticos extremos (secas, enchentes e deslizamentos de terra), que impactam a competitividade das empresas e trazem à tona a necessidade do gerenciamento de risco. Assim, o foco deve ser a melhoria da eficiência da indústria, sem gerar riscos aos negócios e o enfraquecimento das cadeias produtivas e das exportações.
É importante que a ABIC traga para seus associados debates sobre os aspectos técnicos e estratégicos relacionados a impactos, riscos e oportunidades da agenda de mudança do clima na cadeia de valor do setor.
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Poderia citar alguns exemplos de redução das emissões de CO2 na produção industrial, com melhorias na eficiência energética e de processos, parceria para tecnologia de baixo carbono, dentre outros?
A indústria brasileira vem reforçando as ações em favor da sustentabilidade e é uma aliada essencial no cumprimento das metas climáticas.
- O Brasil ocupa o 15º lugar no ranking mundial de produção de alumínio primário, 3º de alumina, 3º produtor do minério bauxita e detém a 4ª maior reserva desse minério. No país, a produção de alumínio primário emite 63% menos GEE que o mundo e a cadeia de valor como um todo, menos 55,9%.
- O Brasil é o país que menos emite CO2 na produção de cimento no mundo, 564 Kg de CO2/t contra 635 Kg CO2/t da média mundial.
- O setor siderúrgico gera 49% da energia que consome. Cerca de 12% da produção brasileira de aço é obtida a partir do uso do carvão vegetal (florestas plantadas) em substituição ao carvão mineral, um diferencial do Brasil em relação à siderurgia dos demais países.
Além da redução nos gases de efeito estufa, quais são as principais tendências quando falamos em sustentabilidade no setor industrial?
O setor industrial brasileiro adota princípios da sustentabilidade, como ética, transparência e respeito à sociedade e ao meio ambiente. Investimentos em projetos ambientais geram ganhos econômicos e sociais e contribuem para a consolidação de uma economia de baixo carbono. As empresas buscam maior eficiência e relações de qualidade com as partes envolvidas, com o objetivo de reduzir riscos e custos, além de transformar os desafios da agenda da sustentabilidade em oportunidades de negócios.
O Brasil se destaca por possuir uma matriz energética com grande participação de fontes renováveis, o que pode colocá-lo em vantagem frente aos seus principais competidores internacionais. Nesse sentido, esse cenário representa uma alavanca de oportunidades para novas soluções energéticas, visando aumentar a competitividade industrial e a expansão da economia.
Além disso, práticas de economia circular, apesar de já serem adotadas pela indústria há bastante tempo, têm ganhado espaço nas discussões. Em 2019, a CNI realizou uma pesquisa nacional para verificar como o tema vem sendo tratado pelo setor e identificou que 76,5% dos entrevistados já adotam alguma prática de economia circular, embora a maior parte ainda não saiba quais iniciativas se enquadram nesse conceito. Entre as principais práticas elencadas pelos respondentes, estão a otimização de processos (56,5%), o uso de insumos circulares (37,1%) e a recuperação de recursos (24,1%).
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Colaboração: Pauta Tavares