Na tarde de ontem, 4 de dezembro, a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) promoveu o último ABIC Educa do ano, cujo tema foi “Mercado do Café – Perspectivas para o mercado cafeeiro e próximas safras de café”. O encontro virtual teve a presença de Pavel Cardoso, Presidente da ABIC; Eduardo Carvalhaes, Analista de Mercado do Escritório Carvalhaes; Guilherme Morya, Analista do Rabobank; Luiz Fernando dos Reis, Superintendente Comercial da Cooxupé; e Carlos Santana, Diretor Comercial do Grupo Ecom, além da participação de inúmeros associados.
Fatores de impacto nos preços
Guilherme Morya, Analista do Rabobank, iniciou o webinar apresentando os fatores que impactaram e continuam pesando no mercado. “Precisamos mencionar os conflitos no Mar Vermelho (os ataques na principal rota entre Ásia/África para a Europa afetam o fluxo de café, aumentando o tempo, o custo e a demanda do grão, principalmente, o robusta), os preços do café do Vietnã (o país segue com oferta incerta em relação ao próximo ciclo), a EUDR (o Regulamento Anti-Desflorestamento, que, até outubro, tinha a previsão de ser implementado ainda em 2024, mas foi adiado por um ano, tirando a pressão de estocar café) e o período de seca no Brasil, principalmente, no último mês, na região do cerrado mineiro. A previsão ainda indica chuvas para o curto prazo, mas, ainda há dúvidas do que virá na safra 2025/26”, refletiu.
O profissional destacou, ainda, o que pode reverter o atual cenário de alta nos preços do café. “Uma expectativa de oferta melhor do que a gente está imaginando para a próxima safra brasileira, uma demanda sendo distribuída mais rápido do que o projetado e, talvez, para o segundo semestre, uma mudança de cenário em relação ao alívio dos estoques. A partir desse período, começamos a olhar para outros fundamentos e notícias que vão surgindo e uma perspectiva de alívio de estoques pode trazer um certo alívio dos preços”, apontou.
Já Luiz Fernando dos Reis, Superintendente Comercial da Cooxupé, fez uma reflexão sobre as expectativas do mercado para o futuro. “Quando olhamos a atual situação da Cooxupé, por exemplo, vemos que a demanda está mais alta, mas a disponibilidade está caindo. Os estoques que temos serão suficientes? Até quando? Será que o café exportado está gerando um estoque ou está sendo todo consumido? Se for a segunda opção, estamos, sem dúvidas, numa tendência de alta. Acredito que o mercado deva ficar muito nervoso até, no mínimo, o primeiro trimestre ou quadrimestre do próximo ano. Está muito difícil prever a safra de 2025”, acrescentou.
Eduardo Carvalhaes complementou a fala relembrando que, no ano passado, o cenário foi parecido com o atual, pois, também, enfrentamos um período de estiagem, acarretando quebra por causa da seca, depois por conta do frio e, ainda, uma terceira por conta da renda. “Então, vamos torcer para não ter uma próxima. Pensando no consumo interno, é importante lembrar que houve um fenômeno este ano. As nossas exportações de conilon explodiram, batemos o recorde. Até o final de outubro, estávamos em 7,8 milhões de sacas e ainda temos os números de novembro e dezembro. Portanto, um mercado que era bastante dominado pelo consumo interno passou a ter uma concorrência forte lá de fora também”, comentou o Analista de Mercado do Escritório Carvalhaes.
Relação entre clima e produção de café
O Diretor Comercial do Grupo Ecom, Carlos Santana Jr, fez uma análise sobre o clima. “Tivemos um longo período de estiagem. Mas, desde que entrou o período chuvoso, totalizamos uma quantidade de chuvas excelente para o plantio. Rapidamente, recuperamos a condição do solo, que estava muito desidratado. Até janeiro e fevereiro de 2025, a gente deve ter uma quantidade de chuva acima da média, e março e abril a previsão é de voltar à média”, salientou.
Ele reforçou, ainda, que alguns indicadores devem ser levados em consideração. “A nossa situação atual é algo que nunca passamos na história do café, por isso estamos negociando preços recordes e vivendo essa angústia. Alguns modelos começam a mostrar que a previsão de indicação de chuvas acima da média em fevereiro pode ser revertida em meados de janeiro. Se isso acontecer, certamente, o mercado pode ficar ainda mais nervoso, pois o ciclo da árvore é o momento da fase final do enchimento dos grãos e no início do processo de maturação”, destacou.
Reajuste do preço
Por fim, Celírio Inácio, Diretor Executivo da ABIC, fez um questionamento. “A indústria de café vai conseguir adequar o valor final de seus produtos na mesma proporção do reajuste do grão? Existe essa ansiedade, pois, por muito tempo, ela ficou refém do varejo pela questão de ter sempre um fôlego de alguém. As indústrias eram colocadas umas contra as outras para que o varejo oferecesse as melhores condições de preços aos consumidores finais, o que também estava ligado à concorrência com distintas marcas oferecidas em outros supermercados”, refletiu.
Pavel Cardoso, Presidente da ABIC, respondeu: “O disclaimer da ABIC é que a Associação não interfere na precificação dos cafés dos associados, mas considerando o questionamento, a movimentação de mercado, e compilando todos os dados apresentados, podemos afirmar que é muito tensa a situação. Normalmente, o trade pressiona a indústria, mas os dados trazem uma responsabilidade adicional na precificação e na negociação com o varejo. A indústria precisa e deve ser responsável com o seu negócio. E considerando esses aumentos exponenciais, e mais ainda, uma volatilidade não vista há tanto tempo, ela deve se posicionar, valorizar os seus negócios e negociar muito bem esses repasses. Além de fazer uma conta muito óbvia: ‘será que eu vou conseguir repor a mesma quantidade de verde ao vender esse quilo de café?’”, afirmou.
Ele comentou, ainda, sobre a importância da diferenciação no café para agregar valor. “É hora de o industrial brasileiro se reinventar e levar os melhores cafés aos consumidores. Por isso a ABIC lançou a certificação de cafés especiais, para que consigamos trazer, cada vez mais, valor agregado aos nossos consumidores. Que a gente reinvente os nossos negócios para essas inovações. Sabemos que não é fácil, mas trabalhar a linha dos especiais nas prateleiras, que hoje é muito aceita pelo trade e pelo consumidor, é um desafio que a indústria nacional precisa avançar”, analisou o Presidente da ABIC.