No dia 24 de fevereiro, o mundo testemunhou o início da ofensiva russa contra a Ucrânia. Mesmo com tentativas de acordo de paz, o conflito segue, com as forças de Vladimir Putin avançando sobre o país comandado por Volodymyr Zelensky, de onde mais de três milhões de pessoas já fugiram.
Apesar da guerra se restringir a duas nações, seus impactos são globais. O mundo observa atentamente o desenrolar da situação, com o isolamento da Rússia por meio de sanções econômicas, como a retirada do país do sistema Swift, que facilita transações internacionais.
Uma das consequências da guerra diz respeito ao setor do café brasileiro. Os dois países são importantes parceiros comerciais do Brasil, com a Rússia ocupando a posição de segunda maior importadora de café solúvel. Em 2021, ela adquiriu em torno de 380 mil sacas de café, equivalente a U$52 milhões, enquanto a Ucrânia ficou na sétima posição, com 158 mil sacas, resultando em um ganho de U$23 milhões, no mesmo ano. Juntos, eles representam 13% de toda a exportação do solúvel brasileiro e, também, do faturamento do segmento, ficando em 13,5% no ano passado
[ABIC Entrevista: Aguinaldo Lima, diretor de Relações Institucionais da ABICS]
As duas nações encaram dificuldades diferentes para receber e consumir o produto. No caso russo, grandes empresas de navegação suspenderam suas rotas ao país, em protesto ao conflito. Na Ucrânia, os portos foram tomados pelas forças ocupantes, impossibilitando o recebimento de cargas. Márcio Fortes, economista e professor de Relações Internacionais do IBMEC, aponta que, com boa parte da população ucraniana fugindo do conflito, é natural ter queda no consumo.
Fortes levanta também a questão dos fertilizantes. O Brasil importa 85% dos fertilizantes que utiliza, com o principal fornecedor do material sendo a Rússia. “Fertilizantes mais caros impactam a cadeia de produção do agronegócio, com consequências diretas nos produtos finais das lavouras”, declara.
Exportações de café solúvel reduziram no mês de março
Aguinaldo Lima, Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), afirmou, em entrevista para o Jornal do Café, em março, que caso a guerra de acirrasse, a expectativa era de quebra de 540 mil sacas de demanda dos produtores.
Em nova conversa, Lima revela que as exportações de café solúvel para os dois países tiveram uma queda significativa. No mês de março, os embarques para a Ucrânia tiveram redução de 90,5%, e para a Rússia, de 78%. “Devido à situação nos portos, a entrega está muito limitada, não há muito o que fazer”, afirma o Diretor. Para abril, a expectativa é de menos movimento ainda para esses países. Entretanto, Lima aponta que as empresas seguem no esforço de buscar clientes em outros países, além de uma resposta muito boa do consumo interno, dando certo alívio ao setor.
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