ABIC Entrevista: Marcos Matos, Diretor Geral do Cecafé

Em conversa exclusiva com o Jornal do Café, o executivo falou sobre o atual momento do mercado de exportação do café nacional, logística e as expectativas para 2022

ABIC Entrevista Marcos Matos (Capa). Crédito - Divulgação
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20/01/2022
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O Brasil é o maior exportador de café do mundo. Só em 2021, o país vendeu 40,4 milhões de sacas de 60 kg para o exterior, o que gerou uma receita de US$ 6,242 bilhões – um aumento de 10,3% em receita cambial frente aos números registrados em 2020. 

Para comentar o desempenho e o atual momento do setor, o Jornal do Café entrevistou Marcos Matos, Diretor Geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Durante a conversa exclusiva, o executivo também falou sobre logística e as expectativas para 2022. 

Como você avalia o atual momento da exportação de café?

O ano de 2021 foi bem desafiador para o comércio exportador de café do Brasil, impactado pela pandemia da Covid-19 e por intensos problemas logísticos.

Esse cenário deverá se arrastar pelo primeiro semestre de 2022, o que faz com que os exportadores permaneçam se deparando com substancial alta nos custos dos fretes, rolagens de cargas, constantes cancelamentos de bookings e disputa por contêineres e espaços nos navios.

De que forma o aumento no preço do café (o maior nos últimos 25 anos) afeta os números da exportação?

A elevação nos preços do café impacta, em um primeiro momento, o segmento industrial, que busca trabalhar com suas margens para não haver repasse imediato aos consumidores. Contudo, a recente disparada das cotações não permitiu que isso fosse possível e, como consequência, vimos que o café foi um dos produtos que puxou a inflação ao longo de 2021. 

No segmento exportador, há outros fatores determinantes, como, por exemplo, o câmbio e a demanda mundial, que, mesmo com a Covid, manteve-se aquecida. Vale destacar que, quanto maior o valor pago pelo café brasileiro enviado ao exterior, maior o valor recebido pelo cafeicultor nacional. Nos últimos anos, nossos produtores receberam entre 81% e 90% do valor FOB, o maior índice mundial.

O Brasil é o maior exportador de café do mundo. A que você atribui esse sucesso?

O caso de sucesso do Brasil é reflexo dos anos de investimento em pesquisa e tecnologias, que foram aplicadas no campo com o foco na sustentabilidade. Dessa maneira, o Brasil alcançou 241 cultivares das variedades Coffea arabica e Coffea canephora, um verdadeiro banco genético que permite que a cafeicultura seja desenvolvida em 33 origens produtoras em todo o país, adaptando-se aos mais diversos climas e topografias. O avanço em pesquisa, desenvolvimento e inovação, nas últimas quatro décadas, também permitiu que os brasileiros reduzissem em 52% a área destinada ao café e, ao mesmo tempo, elevassem em 451% a produtividade, ampliando a produção de 30 milhões, em 1960, para mais de 60 milhões de sacas em 2020. 

No que refere aos embarques, o comércio exportador é muito eficiente e dispõe de diversas tecnologias para processar e beneficiar o café, contando, ainda, com uma equipe de profissionais bem preparados, que garante classificação, estufagem de contêineres e entrega do produto com a maior agilidade no porto, possuindo capacidade para embarcar mais de 4 milhões de sacas por mês e manter abastecido o mercado interno.

Esse avanço sustentável, a heterogeneidade de nossa cafeicultura e a eficiência logística fazem do Brasil o maior produtor e exportador mundial do produto.

Qual o impacto do café brasileiro no exterior (em relação a números e influência)?

O Brasil é responsável por uma a cada três xícaras de café consumidas em todo o mundo, com nosso market share flutuando entre 32% e 40% ao longo dos anos. A diversidade de sabores, de aromas e a sustentabilidade da cafeicultura brasileira, cultivada sobre os critérios ESG, atrai compradores de todos os cantos do mundo e agrada aos mais diversos paladares.

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Marcos Matos, Diretor Geral do Cecafé
Atualmente, muito se fala sobre a logística e a forma como ela encarece ou até inviabiliza a exportação nacional. Poderia comentar o assunto?

Com o avanço das vacinas e os incentivos financeiros promovidos para fomentar as economias em alguns países, houve uma demanda desproporcional de bens que levaram ao desequilíbrio do comércio marítimo mundial.

Essa concentração no fluxo do comércio mundial provocou o congestionamento de embarcações em diversos portos, com destaque para os dos EUA, e limitaram a disponibilidade de navios e contêineres para países provedores de commodities, como o Brasil, que também não é privilegiado geograficamente na logística mundial.

Portanto, o aumento da demanda, a concentração do fluxo do comércio, a menor disponibilidade de contêineres e a falta de espaços nos navios contribuíram negativamente para a elevação das despesas marítimas, em especial, os fretes, e à menor oferta das commodities brasileiras no mundo. E o café não é exceção.

Há previsão de mudança desse cenário?

O Cecafé, junto aos representantes das demais cadeias produtivas do agro, tem se reunido com o Governo Federal na expectativa de promover um amplo fórum de discussões sobre os problemas logísticos, visando reduzir os impactos logísticos no comércio exterior do país. É importante destacar o trabalho ímpar que as áreas de comercialização e logística dos exportadores brasileiros vêm realizando para honrar os compromissos.

De acordo com a associação representante da navegação, estima-se que o cenário de melhora se inicia a partir do segundo semestre. No entanto, cabe destacar que ainda há um grande volume de diversas cargas paradas dos portos, aguardando pelos embarques, e que as novas variantes da Covid-19 podem impor novas restrições logísticas.

Quais os maiores desafios do exportador brasileiro de café atualmente?

No momento, os desafios estão atrelados aos entraves logísticos no comércio marítimo mundial, que obrigam os exportadores a reverem a situação logística e financeira de suas empresas. Mesmo diante de todos esses gargalos, o setor mostra resiliência e mantém o Brasil como leal fornecedor de quantidade e qualidade, entregando nossos cafés sustentáveis a aproximadamente 120 países em 2021.

Qual a sua expectativa para o setor em 2022?

Em relação à safra, as expectativas se concentram nos impactos climáticos nas lavouras cafeeiras e na disponibilidade de oferta do café brasileiro.

É importante destacar que a pesquisa, a tecnologia e o engajamento de todo o setor cafeeiro do Brasil são grandes aliados para garantir ao país o abastecimento interno e externo, ofertando diversidade, qualidade e sustentabilidade aos mais diversos e exigentes mercados.

Essas variáveis conduziram o Brasil ao atual patamar de excelência e eficiência, devendo ser a força motriz para que possamos superar, juntos, os desafios na comercialização do café brasileiro.

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Redação: Usina da Comunicação

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